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Rua 4 reúne descendentes de árabes na tradição de vendas de malas e bolsas

Quem deseja comprar malas, bolsas e mochilas na capital goiana tem lugar certo para ir há mais de meio século: a região da Rua 4, entre as avenidas Araguaia e Goiás, no Centro de Goiânia. É lá que estão localizadas as mais tradicionais lojas do ramo na cidade. Mais de 70 estabelecimentos que trabalham com este tipo de produto se concentraram na localidade. A maioria deles tem um ponto em comum: pertence a árabes, libaneses, sírios e outros imigrantes da região do oriente médio e seus descendentes.
O empresário Lutfi Btedini administra a que é conhecida como a primeira loja de malas e mochilas da região. Ele conta que a família estava estabelecida no Paraná quando soube do potencial de crescimento de Goiás. “Meu pai, Bieb Btedini, e meu tio, Faez Bahmad, tinham vindo do Líbano e moravam no Paraná. As pessoas começaram a falar de um estado que estava crescendo muito e tinha muita possibilidade de desenvolvimento. Então, vieram os dois e mais uma leva de libaneses para Goiânia”, conta Lutfi à reportagem do jornal A Redação.

(Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
Entretanto, a loja, inaugurada em 1950, não começou com produtos para viagem. “Meu pai e meu tio fizeram compras nos atacadistas de São Paulo e trouxeram para a loja produtos mais focados em roupa de cama e algumas roupas femininas”, explica o empresário. A partir daí, a região foi se desenvolvendo  e a loja se fortaleceu, permitindo mais conforto para a família. “A loja foi crescendo, mais gente chegando, então meu pai mandou buscar minha mãe e eu, que morávamos no Líbano ainda”, lembra.
Com o sucesso de vendas, mais pontos nas ruas 4 e 6 foram abertos, mas todos focados nos mesmos tipos de produtos, como explica Lutfi. “Meu tio, então, resolveu se aperfeiçoar em moda íntima. Foi o primeiro que começou a vender esse tipo de produto na região, mas logo todo mundo vendia a mesma coisa. Foi aí que ele percebeu que precisava mudar novamente o ramo.”
Nos anos de 1970, Faez e Bieb começaram a vender produtos de viagem, entre malas, bolsas, mochilas e outros artigos relacionados. “Eles dominaram o mercado, porque foram os pioneiros na região”, afirma Lutfi Btedini, que se diz orgulhoso do pai e do tio.
A loja, que continua em funcionamento, mantém a tradição familiar. “Infelizmente, meu tio Faez faleceu. O filho dele está no Líbano, resolvendo as coisas dele, e eu estou aqui ajudando, à frente da loja. Era pra eu ficar só cerca de três meses, mas já estou lidando com tudo há mais de um ano”, conta.
A tradição árabe também é encontrada na loja vizinha. O sírio Ibrahim Afyuoni é o atual proprietário de uma loja que já soma 52 anos de atuação na região da Rua 4. “Eu assumi a loja há 13 anos, mas é uma história que vem de muito antes. Aqui na região tinham outros tipos de produtos e por volta de 1950 esse ramo veio aqui para essa área, com o tio Faez”, conta Ibrahim.

O comerciante Ibrahim Afyuoni  (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
Para o empresário, a comunidade árabe escolheu os produtos de viagem pela facilidade nas vendas. “É um produto fácil de armazenar, que não tem data de validade e nem é muito influenciado pela moda, como as roupas, que podem deixar de vender conforme o que está em alta.”
A loja, que conta com mais dois funcionários, hoje é a única de Ibrahim, que também já teve outro comércio do mesmo ramo, no bairro de Campinas, também em Goiânia. Depois da pandemia, o comerciante precisou fechar a loja, que era focada nas vendas por atacado.
Ibrahim conta que o ramo de artigos de viagem é bom, mas que as vendas on-line têm sido uma “concorrência complicada”. “Aqui é um ponto referencial de venda de malas e mochilas. Comprei a loja pelo movimento da área, mas hoje caiu muito com as vendas pela internet.” Outro fator que o empresário destaca é a necessidade de revitalizar o Centro da capital. “A região precisa de mais cuidado para atrair novamente as pessoas para cá. Isso é o que faz com que a gente se mantenha aqui”, encerra.
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