Lasagna, gnocchi, capelletti, bolognesa, parmegiana… todos esses termos parecem ser retirados de um restaurante de qualquer cidade italiana. Eles também fazem parte, entretanto, do cardápio do Restaurante Bologna, situado na Rua 3, no Centro de Goiânia.
Fundado em 1957 por Guido e Corinna Tosi, o restaurante sempre fez parte da região central da cidade. O casal italiano, radicado em Goiás, veio para o Brasil fugindo dos efeitos do fim da Segunda Guerra Mundial. Se instalaram primeiro em São Paulo, onde começaram a fabricar massas em casa e vender para restaurantes.
Anos depois, a convite de amigos, se mudaram para a nova capital. “Os amigos do meu pai vieram para Goiânia e chamaram para que ele viesse também e abrisse um restaurante aqui. Ele ficou com muito medo do negócio não ter boa aceitação. Imagine um restaurante de comida italiana na década de 1950, em Goiás… mas ele veio e resolveu arriscar”, conta Maria Cristina Tosi, que hoje está à frente do negócio da família.
O nome do empreendimento não poderia ser outro: Restaurante Bolgona, uma homenagem à cidade natal de Guido e Corinna, localizada no Centro-Norte da Itália. O primeiro endereço do restaurante foi a esquina da Avenida Anhanguera com a Rua 8, onde atualmente é a Rua do Lazer. Depois, mudou-se ainda para a Rua 8, mas no quarteirão acima da Rua 3, onde ficou até 1984.
Gnocchi e lasagna estão entre os carros-chefe da casa (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
“O imóvel onde o restaurante funcionava era alugado e o proprietário, vendo a casa sempre cheia, reajustava o valor do aluguel a cada renovação de contrato. Meu pai, cansado daquilo, resolveu, então, usar o lote que possuía e destinava à moradia dos funcionários para construir um prédio e instalar o restaurante nele”, lembra Maria Cristina.
E foi isso que Guido Tosi fez. Projetou um prédio com subsolo, primeiro piso e mezanino, de sua propriedade. Inicialmente, o subsolo seria utilizado como estacionamento, mas seu Guido teve uma ideia melhor: transformá-lo no restaurante que já tinha prestígio na cidade.
Então, em 1984 o Restaurante Bologna foi transferido para a Rua 3, ao lado do Mercado Central da cidade. E é neste endereço que ele funciona há 39 anos. A fachada modesta quase esconde a tradição da família italiana que conquistou os goianienses.
Na entrada, uma pequena escada leva ao subsolo onde está disposto o salão que acomoda os clientes. Nas paredes, quadros de diversas regiões da Itália, com destaque, é claro, para imagens, mapas e pontos turísticos de Bologna.
Salão do Restaurante Bologna (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
Um pequeno jardim, com a aparência vistosa de que é cuidado por uma matriarca, pode ser visto ao fundo do salão. Mesas e cadeiras de madeira mostram a tradição do lugar, que resiste ao tempo e aos novos estabelecimentos do mesmo segmento que chegam na cidade.
Cartazes colados nas paredes com os dizeres “Não aceitamos cartões de crédito e débito” anunciam que hábitos antigos continuam sendo mantidos. A modernidade, entretanto, aparece na nova forma de pagamento, o pix, e também na inserção do estabelecimento nos aplicativos de entrega.
A história da família também é contada no cardápio, que é o mesmo desde 1957. “Meu pai preferiu fazer um cardápio mais restrito, mas comercializando o que realmente os clientes consomem e nós mantivemos isso. A gente até poderia acrescentar alguma coisa, mas temos que trabalhar com o que vende”, explica Maria Cristina.
A tradição também está nas receitas, passadas de avós para pais e de pais para filha. Maria Cristina, que é advogada, deixou sua carreira no Direito para tomar a frente da cozinha junto com a mãe e o tio, Efren Tosi, quando o pai morreu, em 2013.
“Aprendi a receita da massa com a minha mãe, e é a mesma até hoje. Com o tempo, a farinha foi mudando, até o ovo mudou, mas o essencial da receita é o mesmo. O molho de tomate também é o mesmo, nunca mudamos nenhum ingrediente da receita. Hoje a cozinha é comandada por mim e meu tio, de 89 anos, que é responsável pelas parmegianas. Os outros funcionários da produção são só assistentes”, diz orgulhosa.
Foto dos fundadores Guido, Corina e Efren Tosi está estampada no restaurante (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
Atualmente o restaurante conta com seis funcionários fixos e quatro diaristas. Entre os colaboradores mais antigos está seu José Alves Xavier, que trabalha no local desde 2000 como garçom. Zezinho, como é conhecido pelos clientes, conta que gosta de trabalhar no restaurante e tem seu prato favorito. “Ah, a lasanha. É o que eu mais gosto e o que eu mais indico para o pessoal.”
E não só os colaboradores são “antigos de casa”, a clientela também é fiel. “O que mais temos aqui são clientes antigos, gente que trazia os filhos e agora vem com os netos. Cliente novo sempre aparece, mas é mais raro”, conta o administrador Célio Prado, que fica no caixa e é esposo de Maria Cristina.
O segredo do sucesso? Para Célio é trabalho e persistência. “Hoje em dia é muito difícil manter um negócio aberto, ainda mais por tantos anos. Se não persistir, não tem como durar neste mercado”, acredita.
Maria Cristina destaca outros dois ingredientes na receita do Restaurante Bologna. “Fazemos tudo pelo amor e tradição. É a história da nossa família, que revisitamos todos os anos quando vamos para a Itália. Eu cresci aqui, minha filha também, fechei meu escritório que funcionava neste prédio para não deixar o restaurante fechar”, conta.
Essa tradição de família deve continuar nos passos do neto de Maria Cristina, que tem 7 anos. “Minha filha é advogada, está com a vida estruturada e não tem muito interesse no restaurante. Mas meu neto, com a pouca idade que tem, já diz que quer aprender as coisas aqui. Vamos ver se ele vai continuar assim”, diz sorridente.
Serviço:
Restaurante Bologna
Endereço: Rua 3, nº 290, Centro (ao lado do Mercado Central)
Funcionamento: Quarta a domingo, das 11h às 15h (fim de semana apenas take and go e delivery)
Telefone: (62) 3225-6497
