Presidente Lula precisa esquecer o passado e governar
Lula não esquece Bolsonaro e faz citações ao ex-presidente a cada dois dias
Cada governo que assume recebe uma “herança maldita”. Não há nada mais manjado que essa ladainha. É tipo um bastão fumegante numa infinita corrida de revezamento. Só que os políticos, ao contrário dos atletas, recebem o legado como se este fosse um guindaste. Nem parece que, na campanha, lutaram com unhas e dentes para carregar o suposto fardo.
Essa insânia teve sua largada quando Lula recebeu a faixa presidencial de Fernando Henrique Cardoso. Os petistas culparam o espólio do antecessor por todos os equívocos praticados durante os anos seguintes e longevos da era Lula.
Agora, de volta ao comando da nação, Lula dá sinais de que não mudou, apesar da experiência que lhe pesa nos ombros. O Lula III parece estar preso ao passado, como se ainda fosse o Lula I. Enquanto o Brasil deveria afrontar questões imprescindíveis, como a geração de empregos, a reforma tributária e o combate à pobreza, o chefe do Executivo tem a cabeça voltada para o que passou.
Um levantamento mostra que o presidente eleito faz uma citação a Bolsonaro, em discursos e entrevistas, a cada dois dias. Pergunta: seria obsessão? Saudade da campanha eleitoral? Ou isso é estrategicamente pensado para desviar o foco da inoperância do novo governo?
Usando a batida analogia que Lula tanto preza, ficam as perguntas: cadê o esquema tático do novo governo? Quando o time vai entrar em campo? O gramado está intocado e, por enquanto, da beira do campo, o presidente só acena para a arquibancada, onde está a torcida vermelha organizada que não cansa de entoar seus cânticos de 2022.
O tempo passa, diria o cronista esportivo. Cadê as propostas de governo?, perguntam analistas econômicos, a torcida adversária e até a turma que acompanha tudo do sofá.
O jogo começou. Lula precisa entrar em campo antes que o juiz dê o apito final.