Para satisfazer mercado, Lula deve ter economia mista com desenvolvimentistas e liberais
Objetivo é caminho que garanta distribuição de renda para os mais pobres e nova âncora fiscal para substituir teto de gastos
No passado, videntes e profetas eram os mediadores para falar sobre o humor dos deuses. Atualmente, a vontade do Mercado é esclarecida por meio de relatórios “sensitivos” e essas revelações ganham manchetes e servem de base a respeito de decisões para se comprar ou se vender algo.
Meu filho me perguntou o que era o mercado. Ele tem oito anos. Eu disse que não sabia o que era exatamente. Ou quem era. Pensei um pouco e me lembrei da imagem corporificada do touro. Mostrei para ele. Zeck me perguntou o que ele comia. Eu disse que não sabia exatamente o quê, mas que sabia que ele deveria ser mantido contente e alimentado em qualquer circunstância.
Alimentar essa deidade é um mistério, mas agir contra ela corre-se o risco de excomunhão. Basta ver as recentes declarações do presidente eleito Lula. Cada declaração, uma oscilação. Dólar sobe, bolsa desce. Dólar desce, bolsa sobe, sei lá mais o quê. Para o professor da Face/UFG, Everton Rosa, o novo governo deve vir com uma equipe econômica mista, misturando economistas de linha desenvolvimentistas e os liberais. A ideia é encontrar um caminho que garanta distribuição de renda para os mais pobres e ao mesmo tempo busque uma nova âncora fiscal para substituir o teto de gastos.
Economistas explicam que a fórmula do PIB mostra que sem investimento não há crescimento econômico e que sem crescimento econômico não há arrecadação tributária. A ideia é assim: se o PIB cresce, a economia volta a se expandir, o governo arrecada mais e o gasto público pode até diminuir.
Avaliando os nomes da possível equipe que mistura liberal e desenvolvimentista tem entre os liberais André Lara Resende e Pérsio Arida e entre os desenvolvimentistas Guilherme Mello e Nelson Barbosa.
Em 2018, Arida foi coordenador do programa econômico de Geraldo Alckmin na disputa presidencial. Naquele momento, entre outros pontos, defendeu privatizações de empresas estatais. As privatizações, no entanto, são descartadas pelo governo Lula e avaliação de integrantes do PT são de que indicação do economista com perfil liberal mostra que o presidente eleito está disposto a criar um ambiente plural na agenda da economia.
Na mesma linha, André Lara Resende é visto por aliados de Lula como uma forma de o presidente pretende abrir diálogo com todas as correntes econômicas a partir do ano que vem. Na campanha presidencial de 2018, Lara Resende foi assessor econômico de Marina Silva (Rede).
Durante a campanha, Mello sinalizou que o trabalho do novo governo será o de construir uma proposta visando a recuperação da credibilidade, da previsibilidade e da transparência do arcabouço fiscal brasileiro. Para ele, o controle de gastos se deu às custas de pesados cortes em investimentos públicos e em despesas na área da Educação. Ele diz ainda que o teto dos gastos não respeitado pelo governo Bolsonaro e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e isso acabou desacreditando o Brasil.
Barbosa foi ministro da Fazenda entre o fim de 2015 e os primeiros meses de 2016, no governo Dilma Rousseff, e é considerado de perfil mais técnico do que político e também é crítico do teto de gastos.