Marcos do Val: “Bolsonaro pretendia derrubar a eleição, prender Moraes e impedir posse de Lula”
Senador participou de encontro com ex-presidente e o deputado Daniel Silveira, que instigou a ideia de golpe. Veja detalhes da entrevista
Na madrugada desta quinta-feira (2), o senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou coagi-lo para dar um golpe de estado. Ao lado do deputado federal Daniel Silveira (PTB), Bolsonaro teria dito que Marcos “ia salvar o Brasil” se conseguisse fazer com que o Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, fosse preso e impedir a posse do presidente Lula (PT). Em entrevista à revista Veja, o senador disse que o plano do ex-presidente era flagrar alguma inconfidência do ministro e usar o material para anular as eleições.
Confira a entrevista que o senador Marcos do Val concedeu à Revista Veja:
VEJA: Qual a sua reação no momento em que recebeu a proposta de gravar o ministro?
MARCOS DO VAL: Na hora, eu disse que aquilo era ilegal. Que gravações sem autorização judicial poderiam configurar crime. Nunca compactuei com atos radicais ou extremistas. Sou um democrata, sempre vou lutar para que a democracia permaneça inabalável. Uma operação como a que estava sendo articulado colocaria o Brasil em isolamento mundial, provocaria uma grave crise econômica, traria mais miséria e pobreza. As consequências seriam imprevisíveis.
VEJA: Gravar um ministro, por si só, pode ser um crime, mas não é um golpe.
MARCOS DO VAL: A ideia era que eu gravasse o ministro falando sobre as decisões dele, tentar fazer ele confidenciar que agia sem observar necessariamente a Constituição. Com essa gravação, o presidente iria derrubar a eleição, dizer que ela foi fraudada, prender o Alexandre de Moraes, impedir a posse do Lula e seguir presidente da República. Fiquei muito assustado com o que ouvi.
VEJA: O presidente disse tudo isso?
MARCOS DO VAL: Disse.
VEJA: O senhor sempre foi um aliado do ex-presidente. Ficou assustado por quê?
MARCOS DO VAL: Sou um parlamentar que representa o espectro político de direita e o presidente nunca mostrou qualquer intenção em atuar fora das quatro linhas. A relação dele com o deputado Daniel acabou ficando muito próxima, principalmente depois que o presidente concedeu a ele a anistia pela condenação naquele processo do Supremo. Sei que o Daniel troca muita informação com o presidente, e talvez isso tenha influenciado de alguma maneira o que aconteceu. O Daniel disse que eu ia salvar o Brasil e o presidente repetiu. O Daniel estava lá instigando e o presidente comprou a ideia. Não consigo imaginar alguém vindo ao meu gabinete para tratar de um assunto desse. Uma coisa meio irracional.
VEJA: Por que razão o senhor acredita que foi escolhido para essa missão?
MARCOS DO VAL: Me fiz essa pergunta várias vezes. Aliás, fiquei surpreso ao saber que o presidente queria falar comigo. Foi a primeira vez que nos encontramos fora de uma solenidade oficial. Muita gente sabe que tenho uma ligação com o ministro Alexandre de Moraes. Quando ele foi secretário de Segurança de São Paulo e o Geraldo Alckmin era governador, fui contratado para dar treinamento para a polícia paulista. Não somos íntimos, mas temos um excelente relacionamento. Por isso — e também por dever cívico e de consciência —, relatei a ele o que estava acontecendo. Era a coisa certa a ser feita.