Lula da Silva com jornalistas: adesão ao projeto democrático e contra o terrorismo do bolsonarismo
Há quem postule que a Imprensa exagera ao ressaltar que a invasão foi articulada por golpistas-terroristas. Não há exagero algum. Havia inocentes úteis, meros espectadores do caos, nos atos de destruição das sedes dos três poderes e na tentativa de apagamento da democracia? Se há cães de aldeia, que reverberam os latidos de uns e outros, de acordo com Shakespeare, há também os bobos das províncias, que, se não são otários, se travestem de néscios ao serem pegos com a boca na botija: “Não sei de nada, estava passeando por aí”. Ora, sabem sim. Não havia santos em Brasília, no dia 8 de janeiro, num domingo. Ninguém estava lá para rezar ou como espectador distanciado.
Os atos brutais, que visaram intimidar os que defendem a democracia, colocaram toda a Imprensa ao lado do governo de Lula da Silva. E era (e é) mesmo necessário escolher um lado, o da democracia, que, no momento, é o lado do governo do petista-chefe.
No dia da entrevista coletiva de Lula da Silva à Imprensa, ao seu final, todos posaram para uma fotografia com o presidente, sugerindo “adesão”.
Não se trata, lógico, de adesão ao governo do PT, e sim de adesão à defesa da democracia. Porque Lula da Silva é quem, insistamos, faz a defesa da legalidade. O presidente disse: “Voltei para consertar o Brasil, e o papel de vocês, jornalistas, é me cobrar. (…) Respeito e transparência com a imprensa não vão faltar no atual governo”.
Portanto, ante a “adesão”, por causa de um problema emergencial — a defesa da democracia contra o golpismo —, Lula da Silva alertou àqueles que posaram para a fotografia, numa espécie de congraçamento: “O papel de vocês, jornalistas, é me cobrar”. Não é adulá-lo. Não é aplaudi-lo.
Lula da Silva é um realista absoluto — o que é positivo —, e não um político cínico (ele não corre para Paris ao primeiro “sustinho”). Os realistas são aqueles que fazem o que é preciso fazer, que negociam com o diabo para conseguir realizar o possível. Os que querem o Céu, sem passar pelo meio-Céu, às vezes caem direto no Inferno. O petista-chefe sabe, como poucos, que terá quatro anos muito difíceis pela frente. O cerco antidemocrático, no sentido de invasões, tende a ceder. Mas vai perdurar outra espécie de cerco — tanto no Congresso quanto nas redes sociais. A “guerra” está só começando e será dura e dolorosa. A direita bolsonarista vai trabalhar para pautar o governo, com o objetivo de paralisá-lo. Raposa experimentada, o petista-chefe sabe que deve fazer um governo “ativo”, e não meramente “reativo” ou “defensivo”.
O Supremo Tribunal Federal promove um cerco à rede de fake news e àqueles que organizam atos democráticos — inclusive afetando seus bolsos-contas bancárias —, mas, apesar de sua boa vontade e competência, não é inteiramente possível controlar tudo. Sempre escapa alguma coisa ou até muita coisa (como os grupos viciosos do WhatsApp, verdadeiras quadrilhas de falsificações orgânicas). O STF não tem os “algoritmos” do Google e do Facebook e, às vezes, chega atrasado, quando o estrago já está feito.
O pensamento de direita não pode vicejar nas redes sociais e na imprensa, com críticas ao governo do PT? A defesa da democracia é a prioridade, mas é preciso ter cuidado para evitar que se crie um autoritarismo de uma certa modalidade: aquele que avalia que qualquer crítica mais dura aos que estão no poder deve ser punida com “censura”. As boas intenções podem “terminar” em caça às bruxas, o que pode ser aplaudido no curto prazo, em que se precisa defender a democracia da ação dos golpistas, mas pode gerar problemas no médio e no longo prazo, com a crítica mais severa sendo penalizada e atacada.
Qualquer coisa que se escrever com certo distanciamento sobre o Grupo Jovem Pan certamente deixará a impressão de que se trata de uma defesa do seu jornalismo. Bolsonaro planejou destruir a TV Globo, inclusive retirando-lhe a concessão, e felizmente não conseguiu. A Jovem Pan pode perder a concessão porque se tornou um veículo da direita radical? É um caso a se pensar.
Os jornalistas da Jovem Pan, e de outros veículos de direita, devem ficar sem empregos e redes sociais devido a uma questão ideológica? Não seria melhor processá-los, o que poderá resultar em condenações, que retirar seus espaços de trabalho?
De alguma maneira, quando os atos antidemocráticos cessarem, ou pelo menos diminuírem — sobretudo nas ruas —, a imprensa, a dita “normal”, como “Folha de S. Paulo”, “O Globo”, “Estadão”, “Veja”, entre outros, certamente voltará a ter instâncias críticas. Como será a reação do governo Lula da Silva e do Supremo Tribunal Federal? Espera-se que, ante críticas contundentes mas sérias, sem interesse em desestabilizar a democracia — portanto, não se estará fazendo o “jogo” do bolsonarismo —, não se unam contra jornais e revistas. Não há lua de mel que dure para sempre entre Imprensa e governos.
Sem os excessos da Jovem Pan, e de outras “gazetas”, as críticas dos jornais — e, quem sabe, das emissoras de televisão, que, hoje, estão alegremente ao lado do governo Lula da Silva, no limite da “assessoria” — vão ter mais destaques e, portanto, vão incomodar. Espera-se que não se inicie outra caça às bruxas.