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Empresas goianas apostam em tecnologias sustentáveis para alavancar negócios

Empresas inovadoras em Goiás estão ganhando destaque ao combinar tecnologia com responsabilidade ambiental e social. Novos negócios locais estão criando soluções sustentáveis que impactam positivamente suas comunidades e o meio ambiente. Essas iniciativas têm atraído a atenção do mercado e da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) de Goiás, que lançou um programa de aceleração para fomentar startups dessa área.

Segundo o Observatório Sebrae Startups, o Brasil conta com 408 startups de impacto socioambiental, mas a menor concentração está no Centro-Oeste, com apenas 24 empresas. A maioria delas está em fase inicial, enfrentando o desafio de transformar ideias em produtos.
Raphael Martins, subsecretário de Inovação e Desenvolvimento Sustentável da Secti, destaca que o programa tem como objetivo fomentar negócios que solucionem ou reduzam problemas socioambientais por meio da inovação tecnológica. O programa selecionou 24 empresas e teve duração de 10 semanas.
“Toda essa temática de negócios de impacto socioambiental ainda é relativamente recente no país e no mundo. Foi uma surpresa muito positiva ver tantas empresas em Goiás com as quais ainda não estávamos familiarizados”, comenta Martins.
Uma dessas iniciativas é o Acqua ID, desenvolvido pela EcoTech, que serve para verificar a qualidade da água em relação a diversos tipos de contaminantes. A empresa também trabalha no desenvolvimento de produtos similares para outras matrizes, como a qualidade do leite e das carnes, que ainda estão em fase de desenvolvimento.
Produto da EcoTech (Foto: divulgação)

 

O projeto está em fase de captação de investimentos, já que demanda espaço laboratorial e uso de insumos biotecnológicos caros. Apesar do alto custo, Artur Alves, sócio da EcoTech, argumenta que é um investimento que vale a pena. “Não só pela economia, com a redução de custos e maior produtividade, mas também pela redução de impactos ambientais por meio de alternativas tecnológicas que economizam recursos naturais”, avalia.
Alves ressalta a importância de programas como o da Secti e de outros apoios governamentais. “O envolvimento de atores como o governo é essencial nessa fase inicial, para que essas empresas possam testar alternativas que oferecem novas soluções, principalmente no mercado agro. Observamos em vários países que a participação do governo e de instituições de fomento é essencial para que os negócios possam sair do papel e chegar ao mercado”, explica.
A solução proposta pela EcoTech visa permitir que qualquer pessoa teste a qualidade da água de forma simples e acessível. “Nosso kit inclui todos os instrumentos necessários para que qualquer pessoa, em qualquer lugar, possa realizar a testagem. Seja em sistemas de água internos em casas, condomínios, ou em setores de produção de alimentos e agroindustrial. Estamos focados em parcerias com empresas de tratamento de água que atendem comunidades vulneráveis”, explica.
Essa solução permitirá uma melhor qualidade dos serviços de saneamento não apenas no setor produtivo, mas também em comunidades isoladas e vulneráveis. “Hoje, em locais de difícil acesso, a testagem é complicada, pois é necessário levar a amostra ao laboratório ou usar testes que requerem maquinário laboratorial. Nosso teste pode ser realizado no próprio local, o que reduz o tempo, aumenta a frequência dos testes e torna mais acessível para as pessoas entenderem o que estão consumindo”, avalia Alves.

Cosméticos veganos

Com o passar dos anos, novos avanços tecnológicos e a conscientização dos consumidores têm afastado os laboratórios e empresas farmacêuticas e de cosméticos do modelo de testagem em animais. Alinhada a essa virada ética e ao potencial sustentável e econômico de modelos alternativos, a Nanoterra, startup goiana de nanobiotecnologia, desenvolve produtos e serviços para a cadeia de cosméticos.
A empresa busca aliar tecnologia de ponta à preservação ambiental, criando nanoativos veganos e sustentáveis a partir de insumos produzidos de forma sustentável no Brasil. A idealizadora do projeto, a empresária e pesquisadora goiana Iara Mendes, iniciou sua jornada nos laboratórios da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde fez doutorado em inovação farmacêutica, incluindo um período no Instituto de Química Avançada da Catalunha, na Espanha.
Iara Mendes (Foto: divulgação)

 

A ideia começou a surgir com cosméticos para peles maduras. Ao pesquisar sobre a área, Mendes descobriu uma alta demanda por inovação e novas soluções tecnológicas. “Sou goiana e aqui usamos muito o açafrão, que possui propriedades antimicrobianas, antioxidantes e anti-inflamatórias conhecidas. O maior problema do uso na indústria cosmética é a cor, que mancha. Decidi resolver isso usando nanotecnologia”, relata.
Ao longo de vários anos de pesquisa, Mendes desenvolveu uma nanopartícula de açafrão-da-terra com baixo custo de energia, escalável para produção industrial e, mais importante, sem uso de polímeros de origem animal. O produto já está pronto para atender empresas cosméticas de Goiânia, Anápolis e São Paulo.

Agro tecnológico

Outra iniciativa que passou pelo programa de aceleração da Secti foi a Replantt, empresa que já conta com dois produtos de impacto socioambiental. O primeiro é um sistema digital de governança ambiental, social e corporativa (ESG) que permite a qualquer empreendedor fazer a gestão da empresa considerando aspectos sociais e sustentáveis. “Esse tema vem sendo cada vez mais exigido, inclusive pelos bancos. Praticamente toda empresa precisará regularizar seu impacto ambiental e emissões de carbono”, explica Sérgio Alvarez, sócio da Replantt.
“Hoje, para implantar ESG, é necessário contratar uma consultoria que pode custar até R$ 200 mil. A Replantt oferece a solução ‘ESG Fácil’ por menos de R$ 1 mil, permitindo que empresas ganhem em mercado e eficiência”, apresenta Alvarez. O segundo produto da empresa, ainda em desenvolvimento, é um “remineralizador”, um fertilizante diferenciado e 100% natural, que pode substituir os fertilizantes químicos importados.
“O Brasil importa 85% dos fertilizantes que consome, o que representa um risco. Nossa solução é 100% nacional e natural, sendo um substituto menos impactante e mais acessível para pequenos e grandes produtores”, resume o empresário. O produto já possui certificação IBD, o que significa que pode ser usado na produção de alimentos orgânicos.
Sérgio Alvarez (à direita) (Foto: divulgação)

Na mesma linha, a startup Terra Viva busca ajudar o agro goiano a se desenvolver de forma mais sustentável. A pesquisa da empresa, que também passou pelo programa da Secti, foca no desenvolvimento de microorganismos para aplicação nas plantas, reduzindo a necessidade de defensivos e fertilizantes químicos, e consequentemente, a poluição do solo e dos cursos d’água. “Nosso objetivo é melhorar a saúde das plantas e a produtividade dos agricultores”, apresenta Hector Malta, sócio da Terra Viva.

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