Com a reta final das campanhas eleitorais em Goiânia, os candidatos à prefeitura intensificam uma das estratégias mais tradicionais: o “corpo a corpo”. Essa tática envolve o contato direto com eleitores por meio de caminhadas, reuniões, carreatas e visitas a bairros e comércios. Mesmo com o avanço das campanhas digitais, esse tipo de ação continua sendo essencial para mobilizar eleitores, especialmente os indecisos, a poucos dias do primeiro turno das eleições.
O “corpo a corpo” mantém seu papel central porque, além de aproximar os candidatos dos eleitores, ajuda a humanizar as campanhas. Esse contato físico gera um apelo emocional que as redes sociais muitas vezes não conseguem alcançar, especialmente em áreas com acesso limitado à internet e à informação de qualidade.
Nos últimos dias antes da eleição, essa proximidade ganha ainda mais relevância, já que as campanhas buscam engajar os indecisos ou eleitores desiludidos com a política.
Em um cenário onde a abstenção cresce e o número de eleitores indecisos é alto, a mobilização física dos candidatos pode fazer a diferença nos últimos dias antes da eleição. Contudo, é uma prática que divide opiniões entre os eleitores, sendo vista como positiva para uns e incômoda para outros. O desafio dos candidatos é equilibrar essa abordagem com as campanhas digitais, usando todas as ferramentas disponíveis para engajar o eleitorado até o último momento.
A força do corpo a corpo na reta final
Para o professor Rodrigo Almeida, especialista em ciência política, o corpo a corpo se intensifica nos últimos dias porque é uma chance de os candidatos darem a última cartada. “Por mais que as redes sociais tenham uma relevância indiscutível, o contato direto continua a ser uma forma eficiente de mobilizar, principalmente nas periferias e em locais de baixa penetração digital”, comenta.
Ele destaca ainda que, em uma disputa onde se espera um segundo turno, como é o caso em Goiânia, a influência dos indecisos pode ser decisiva. “Muitos eleitores tomam sua decisão nos últimos momentos, e o corpo a corpo funciona como uma maneira de reforçar as propostas de forma pessoal, mostrando o compromisso do candidato com a comunidade”.
A professora Marília Machado, também especialista em ciência política, complementa essa análise. Segundo ela, o contato físico tem a vantagem de gerar uma percepção de autenticidade que o meio virtual não oferece.
“Quando o eleitor se encontra com o candidato, olha nos olhos e ouve suas propostas, cria-se uma conexão difícil de se replicar nas redes sociais. É uma estratégia poderosa, principalmente para engajar aqueles que estão em dúvida”, avalia.
Ela aponta, no entanto, que essa prática pode incomodar alguns eleitores, especialmente quando o ritmo da campanha interfere diretamente no cotidiano de bairros mais movimentados.
Ações dos candidatos
Nesta reta final, diversos candidatos a prefeito de Goiânia estão utilizando intensamente o corpo a corpo para tentar conquistar eleitores. Adriana Accorsi (PT) programou uma caminhada no Centro da cidade, um local estratégico que concentra grande fluxo de pessoas.
Fred Rodrigues (PL) optou por uma ação mais localizada no setor Novo Horizonte, uma região residencial importante para sua campanha, que busca consolidar votos nas periferias. Além disso, Fred também planejou visitas a empresas em diferentes pontos da cidade, tentando atrair o eleitorado empreendedor e trabalhadores.
Rogério Cruz (Solidariedade), atual prefeito e candidato à reeleição, adotou uma abordagem similar, dividindo seu tempo entre reuniões com apoiadores e caminhadas pelo Residencial Itaipu.
Sandro Mabel (União Brasil) apostou no reforço de sua imagem com a presença do governador Ronaldo Caiado em suas atividades, tentando associar sua candidatura à popularidade do governador. Mabel programou uma reunião com apoiadores e também planejou uma caminhada em um bairro estratégico para sua campanha.
Outro candidato que intensificou suas ações foi Matheus Ribeiro (PSDB), que incluiu em sua agenda visitas à Ceasa e empresas locais, em uma tentativa de se aproximar do setor produtivo.
Vanderlan Cardoso (PSD) apostou nas carreatas e em cultos religiosos, usando esses eventos para reforçar sua presença em bairros onde a religião tem forte influência e onde ele já marcou presença física em outras oportunidades.
Eleitores divididos sobre o impacto
Os eleitores de Goiânia, por sua vez, têm percepções distintas sobre essa prática de corpo a corpo. Para muitos, como José Carlos, morador do Setor Pedro Ludovico, essa estratégia ainda faz diferença.
“Quando o candidato vem aqui, fala com a gente, dá uma esperança de que ele realmente vai cumprir o que está prometendo. Já decidi meu voto depois de conversar com um candidato na feira de domingo”, conta o comerciante, que também viu com bons olhos a visita de outros candidatos à sua região. “É nessa hora que a gente vê quem realmente está comprometido com o bairro.”
Outro exemplo é o de Maria Aparecida Martins, do setor Jardim Curitiba, que acredita que a visita dos candidatos demonstra interesse pelos problemas da comunidade. “Moro aqui há mais de 30 anos, e o que a gente vê é que só no final da campanha eles vêm aqui. Mas, mesmo assim, é bom ver que, pelo menos nesses últimos dias, eles dão as caras. Já estava em dúvida, mas agora estou mais certa de quem vou votar”, afirma a aposentada.
Por outro lado, nem todos veem o corpo a corpo com bons olhos. Para João Pereira, morador do Centro de Goiânia, essas ações atrapalham mais do que ajudam. “Aqui no Centro, os candidatos aparecem na última hora e tumultuam o trânsito. Pra mim, não faz diferença, já que o que me influencia são as propostas que vejo na TV e nas redes. Essas caminhadas só atrapalham”, critica o bancário, que ainda não decidiu seu voto, mas afirma que o contato físico não será um fator determinante.
Sônia Freitas, do setor Finsocial, compartilha dessa opinião. Para ela, as caminhadas e carreatas não acrescentam nada ao debate. “Atrapalha nosso dia a dia, fecha ruas, faz barulho e, no fim das contas, eles não fazem nada do que prometem. Prefiro acompanhar as entrevistas e debates na TV”, explica a dona de casa, que ainda está indecisa e acha que esse tipo de ação não vai influenciar seu voto.
Mas para Ana Clara Magalhães, moradora do setor Bueno, as caminhadas têm um impacto positivo. “Aqui no Bueno, muitas vezes os políticos esquecem da gente porque é uma região de classe média. Quando eles aparecem, a gente sente que, pelo menos, estão ouvindo o que temos a dizer. Já decidi meu voto depois de conversar com alguns candidatos”, conta a estudante de direito.
Carreatas e o reforço de imagem
As carreatas, que também fazem parte da estratégia do corpo a corpo, têm ganhado destaque nos últimos dias como uma maneira de reforçar a imagem dos candidatos, principalmente aqueles que já apareceram na TV ou que já percorreram a pé as mesmas regiões. Vanderlan Cardoso, por exemplo, escolheu este tipo de ação na quarta-feira, enquanto Adriana Accorsi e Fred Rodrigues focaram mais nas caminhadas.
Para Rodrigo Almeida, as carreatas servem como um reforço visual e simbólico, mas elas não têm o mesmo impacto que o contato direto. “É uma forma de marcar presença, de mostrar força e organização. Porém, ela é mais eficaz em consolidar o apoio de quem já está inclinado a votar no candidato. Dificilmente uma carreata vai mudar o voto de um indeciso, mas pode ajudar a fortalecer a campanha”, explica o professor.
De acordo com a legislação eleitoral, os candidatos têm até o próximo sábado, véspera do primeiro turno, para realizar esse tipo de ação. Após essa data, ou seja, no dia da eleição, próximo domingo, dia 6 de outubro, qualquer forma de propaganda ativa, incluindo carreatas e caminhadas, estará proibida.