As eleições municipais em Goiânia este ano estão marcadas por uma dinâmica peculiar: a forte presença de padrinhos políticos. Candidatos a prefeito esperam que figuras de grande relevância nos cenários nacional e estadual possam auxiliar em papéis estratégicos nas campanhas. Em muitos casos, esses padrinhos estão tentando transferir seus votos e capital político para os candidatos menos conhecidos.
A tarefa é desafiadora, pois a transferência de votos nem sempre é garantida e pode depender de diversos fatores, como a popularidade do padrinho e a aceitação do candidato pelo eleitorado. Essa tentativa de transferência de voto tem sido uma estratégia comum, especialmente em cenários onde os candidatos não possuem alta visibilidade, ou ainda devido a relevante popularidade do padrinho político.
O apoio de uma figura conhecida pode, teoricamente, impulsionar a campanha de um candidato, mas o sucesso dessa transferência é incerto e muitas vezes limitado por barreiras como a desconfiança dos eleitores ou o ceticismo em relação à capacidade do candidato apadrinhado. As chapas traçam diferentes estratégias de uso da imagem, beneficiando politicamente as candidaturas.
Sandro Mabel e a aliança com Caiado
No caso de Sandro Mabel, candidato pelo União Brasil, a presença do governador Ronaldo Caiado tem sido um dos pilares da sua campanha. Caiado é bem avaliado na capital, tem se empenhado em reforçar a aliança com Mabel, buscando uma associação direta entre a prefeitura e o governo estadual.
(Foto: Governo de Goiás)
Durante a campanha, a coordenação de campanha Caiado projeta a realização de eventos ao lado de Mabel, como caminhadas e adesivaços. O intuito é destacar uma possível gestão municipal alinhada com o governo estadual. Euler Morais, coordenador de campanha de Mabel, expressa confiança na presença do governador e na capacidade de atrair apoio.
“Acreditamos que a participação ativa do governador, adesivando carros e engajando formadores de opinião, será fundamental para o crescimento da campanha. Temos muita convicção no potencial de crescimento do Mabel, que é bem conhecido, especialmente nas regiões mais centrais da cidade. Apesar de estar afastado do processo eleitoral por 14 anos, ele ainda possui grande aceitação e o apoio do governador pode ser decisivo para uma transferência de votos eficaz.”
Historicamente, porém, essa estratégia tem se mostrado desafiadora em Goiânia. Nas eleições mais recentes, governadores que tentaram fazer essa ponte enfrentaram dificuldades. Em 2016, Marconi Perillo apoiou Vanderlan Cardoso, que acabou derrotado. Em 2020, foi a vez de Ronaldo Caiado apoiar novamente Vanderlan, com o mesmo resultado desfavorável. Agora, em 2024, Caiado apoia Sandro Mabel, apostando que desta vez a aliança pode quebrar essa sequência de derrotas.
“A ideia é fazer, talvez pela primeira vez em tantos anos, uma parceria efetiva entre a gestão municipal e a gestão estadual. Sempre nos anos anteriores, essa aliança não ocorreu, e o governador não teve o prefeito como aliado. Agora, esperamos que isso possa mudar. O governador está muito animado, incentivando seus auxiliares a colaborar com a campanha, e acreditamos que essa parceria trará respostas eficazes aos problemas mais essenciais da cidade”, relatou Euler Morais.
Adriana Accorsi e o apoio de Lula
Adriana Accorsi, candidata pelo Partido dos Trabalhadores, conta com o apoio direto do presidente Lula, uma figura de relevância política no país. Lula, que teve um papel central na escolha de Adriana como candidata, deu seu aval à sua candidatura, reforçando a importância de ter um representante alinhado com o governo federal na capital goiana. No entanto, é pouco provável que Lula participe ativamente da campanha em Goiânia, devido à sua agenda ocupada e ao foco em outros estados onde a disputa é mais acirrada.
(Foto: reprodução)
Apesar disso, Adriana e sua equipe têm argumentado sobre a possibilidade de uma parceria sólida entre a prefeitura e o governo federal, caso ela seja eleita. Rubens Otoni, coordenador de campanha de Adriana Accorsi, enfatiza.
“Nós estamos fazendo um planejamento do nosso esforço, da nossa dedicação. Nos ajuda muito ter o presidente Lula como referência para os projetos e programas que precisaremos desenvolver para cuidar da cidade de Goiânia e melhorar a vida do nosso povo. Essa identidade e este relacionamento com o Presidente da República serão cruciais”, afirma Otoni.
Fred Rodrigues e o Bolsonarismo em Goiânia
Fred Rodrigues, candidato pelo PL, é o nome do bolsonarismo em Goiânia. Com o forte apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, Fred tenta capitalizar pelo menos parte da expressiva votação que Bolsonaro obteve nas últimas eleições na capital, e foi o candidato mais votado para a Presidência da República, em Goiânia, nas eleições de 2022. Ele recebeu 513.018 votos, o equivalente a 63,95% do total dos votos válidos no 2º turno naquela ocasião.
(Foto: reprodução)
O ex-presidente e outras lideranças têm demonstrado publicamente seu apoio a Fred, com promessas de participação em eventos de campanha e a utilização de sua imagem nos materiais eleitorais. Bolsonaro já declarou seu apoio a Fred e se comprometeu a participar da campanha ao menos uma vez. Fred Rodrigues espera que Jair Bolsonaro cumpra atividade de campanha na capital.
“O presidente Bolsonaro com certeza deve vir aqui pelo menos mais uma vez. Ele disse que tentaria vir duas, mas entendemos que ele é hoje o nome mais requisitado do Brasil. Ao contrário da candidata do PT, que está escondendo o Lula, nós queremos trazer Bolsonaro aqui todos os dias. Tenho total orgulho de quem me apoia e não deixarei de mostrar esse apoio que recebi dele, o que me deixa muito honrado”, afirmou.
Matheus Ribeiro e o Peso de Marconi Perillo
Matheus Ribeiro, candidato pelo PSDB, tem como principal padrinho político o ex-governador Marconi Perillo, que governou Goiás por quatro mandatos e é considerado uma das figuras mais influentes do partido. Marconi, que atualmente preside o PSDB em nível nacional, tem sido uma presença constante na campanha de Matheus, reforçando a importância de manter o partido no cenário político goiano.
“O Marconi é presidente nacional do partido, e será como se sentir à vontade de estar presente. Tenho mostrado a todo momento o trabalho desenvolvido, mas também apresentado o meu próprio trabalho e a esperança de renovação”, argumentou Matheus.
(Foto: reprodução)
No entanto, a escolha de Marconi como padrinho tem gerado questionamentos por parte dos adversários de Matheus, que criticam a ideia de novidade proposta pelo candidato. Apesar de se apresentar como uma renovação na política local, Matheus enfrenta a crítica de estar vinculado a uma liderança tradicional, que, embora poderosa, carrega consigo a bagagem de anos de governo e as controvérsias associadas.
Para seus oponentes, essa contradição enfraquece o discurso de mudança que Matheus tenta emplacar, enquanto ele insiste que sua experiência como jornalista e sua juventude trazem um novo vigor ao PSDB e à política de Goiânia.