Bahia abre proposta do City: aporte de R$ 1 bilhão por 90% da empresa que administrará o futebol
Conheça em detalhes o contrato negociado pela diretoria tricolor, encabeçada pelo presidente Guilherme Bellintani, e pelos representantes do grupo estrangeiro. Sócios decidirão venda
Guilherme Bellintani, presidente do Bahia, apresenta a conselheiros do clube, na noite desta sexta-feira, detalhes da proposta feita pelo City Football Group para comprar a empresa que administrará o futebol tricolor.
Leonardo Martinez, Guilherme Bellintani e Vitor Ferraz, dirigentes do Bahia — Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia / Divulgação
O City se compromete a aportar R$ 1 bilhão na SAF a ser constituída pelo Bahia, em contrapartida à aquisição de 90% de seu capital, o que lhe dá controle sobre ela. O dinheiro se divide em três finalidades:
- R$ 500 milhões para a compra de jogadores;
- R$ 300 milhões para o pagamento de dívidas;
- R$ 200 milhões para infraestrutura, categorias de base, capital de giro, entre outros.
O prazo contratual para que o City execute essas obrigações financeiras é de 15 anos. Dirigentes contam com a maior parte do investimento, sobretudo em contratações de atletas, em cinco anos.
Para estimular a competitividade do futebol sob novo comando, caso a administração passe ao grupo estrangeiro, haverá obrigação contratual de manter a folha salarial da empresa no que for maior:
- R$ 120 milhões por ano;
ou
- 60% da receita bruta da SAF, exceto transferências de jogadores.
Dívidas da associação civil serão totalmente liquidadas. Em vez de entrar em processo de recuperação judicial ou no regime centralizado de execuções, o Bahia negociará débitos diretamente com credores. O contrato prevê que toda a dívida existente será quitada pelo City.
De acordo com a proposta, a marca continuará a ser propriedade da associação civil. O uso dela na SAF, para a prática do futebol, está condicionado ao pagamento de R$ 2,5 milhões por ano em royalties.
Ao manter itens vinculados à marca, a associação tem poder sobre questões como hino, brasão, escudo, símbolos, apelidos e cores. Qualquer mudança só poderá ocorrer por decisão da associação.
Programas que vinham sendo executados pela associação serão mantidos pela empresa. Alguns exemplos são o “Camisa Popular”, com uniforme de jogo mais barato; o “Bermuda e Camiseta”, plano de associação para quem ganha até R$ 1.500 por mês; e “Dignidade aos Ídolos”, que entrega bolsas para ex-jogadores em estado de necessidade.
Governança
Caso tenha a aprovação de seus sócios, o Bahia repetirá processo feito por adversários como Botafogo, Cruzeiro e Vasco. O futebol profissional e de base, masculino e feminino, será transferido para uma empresa, a ser constituída sob o formato de Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
A aquisição ocorre nessa empresa. O City Football Group pretende comprar 90% do capital, percentual alto suficiente para lhe dar controle sobre o futebol. A associação civil Esporte Clube Bahia permaneceria na sociedade com participação minoritária, por meio de seus 10%.
A SAF seria administrada por meio de Conselho de Administração, composto por seis pessoas. Cinco seriam indicadas pelo City; uma, pela associação. Todos os profissionais da companhia responderiam a esse órgão, que montaria a estratégia e tomaria as principais decisões.
Nesta estrutura, é papel do Esporte Clube Bahia monitorar a administração da empresa, inclusive por meio de demonstrativos financeiros, e garantir que cláusulas do contrato serão cumpridos.
Multinacional
Caso assuma o futebol do Bahia, o City implementará no Brasil a metodologia de gestão do futebol e formação de atletas que usa no resto do mundo, nos clubes que compõem o grupo. Isto inclui tecnologia própria e a inclusão dos baianos na rede para captação de talentos.
Ferran Soriano é o CEO global e mentor deste modelo. Com passagem bem-sucedida pelo Barcelona entre 2003 e 2008, também autor do livro “A bola não entra por acaso“, o executivo vislumbrou o intercâmbio de informações e jogadores dentro de uma multinacional do futebol.
Havia a intenção de comprar um clube na América do Sul para torná-lo carro-chefe no continente. Houve conversas com outros dirigentes brasileiros – por exemplo, do Atlético-MG –, porém elas não avançaram.
A negociação com o Bahia começou em setembro do ano passado. Dirigentes do clube se aproximaram de representantes do City com auxílio de Paulo Pitombeira, empresário de jogadores – entre eles Gabriel Jesus, então ainda no Manchester City, e Gabriel Pereira, do New York City FC. Pitombeira trabalhou como intermediário da operação de compra e venda.
Caso seja mesmo comprado, o Bahia ficará em segundo lugar na escala de investimentos do grupo, atrás apenas do Manchester City. Internamente, o City Football Group organiza seus clubes em três linhas:
- Flagship (“carro-chefe”);
- Talento;
- Parceria.
Os carros-chefes estão localizados em mercados com grande relevância socioeconômica, mas não necessariamente tradição no futebol. New York City (Estados Unidos), Melbourne City (Austrália), Mumbai City (Índia) e Sichuan Jiuniu (China) se enquadram nesta categoria.
Algumas filiais foram adquiridas com o propósito de formar jovens talentos e abastecer a cadeia. Montevideo City Torque (Uruguai), Troyes (França) e Lommel (Bélgica) são exemplos deste subgrupo.
Parcerias foram firmadas para que haja intercâmbio de informações e jogadores, porém nem sempre com a compra de parte do capital do clube. O grupo detém participação minoritária no Yokohama Marinos (Japão), enquanto não tem propriedade sobre o Bolivar (Bolívia).
Ferran Soriano, CEO do City Football Group, e Txiki Begiristain, diretor de futebol do Manchester City — Foto: Alex Livesey / Getty Images
Quem está acima
O City Football Group tem seu capital dividido entre três empresas:
- Abu Dhabi United Group – 77,22%
- Silver Lake – 14,54%
- China Media Capital – 8,24%
O Abu Dhabi United tem como proprietário o sheik Mansour bin Zayed Al Nahyan, membro da família real dos Emirados Árabes. Vazamentos de documentos internos indicam que a companhia é administrada pelo país, porém o grupo afirma ser independente do governo.
Após a compra do Manchester City, em 2008, e da expansão pelo mundo por meio das aquisições dos demais clubes, ao longo dos anos 2010, o grupo teve ações vendidas para americanos e chineses. As decisões continuam a ser tomadas pelos representantes do sheik árabe.
Guardiola e sheik Mansour bin Zayed Al Nahyan — Foto: Getty Images