Em aceno a Lula, Milei diz que embaixador argentino no Brasil seguirá no cargo
O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, afirmou nesta quarta-feira (29/11), que vai manter o peronista Daniel Scioli como embaixador no Brasil. A confirmação é mais um sinal de moderação de Milei e indica disposição para manter boas relações diplomáticas com o governo Lula, após uma série de críticas ao presidente brasileiro durante a campanha eleitoral.
Scioli assumiu o cargo indicado pelo presidente Alberto Fernández em 2020, durante o mandato de Jair Bolsonaro. A manutenção do peronista era especulada na imprensa argentina desde o encontro do chanceler do Brasil, Mauro Vieira, com Diana Mondino, que assumirá a chefia da diplomacia na gestão Milei, no domingo (26/11).
Em entrevista à rádio argentina La Red, Milei confirmou a permanência do peronista. “A ideia é que por enquanto ele continue nessa tarefa”, disse. Na mesma entrevista, Milei anunciou o nome do economista e ex-diretor do Banco Central da República da Argentina, Luis Caputo, para o cargo de ministro da Economia e Gerardo Werthein para a embaixada argentina nos Estados Unidos.
Scioli é descrito como um político habilidoso e se tornou embaixador no Brasil com o desafio de manter as relações entre os dois países estáveis em meio às diferenças ideológicas entre Fernandez e Bolsonaro, que se criticavam mutuamente.
Boas relações
O Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina, seguido por China e Estados Unidos, e a manutenção de boas relações com Brasília é considerada crucial por Buenos Aires. A imprensa argentina descreve a atuação do embaixador no Brasil como “uma das melhores entre os embaixadores do atual mandatário (Alberto Fernández)”.
“Basicamente porque sua gestão foi quem manteve o vínculo político e comercial com o mais importante sócio e vizinho do Mercosul nos piores momentos da relação entre Fernandez e Bolsonaro”, escreveu o jornal Clarín no domingo (26/11). A tarefa do embaixador durante o governo Milei deve ser semelhante, dada às críticas feitas pelo presidente eleito ao governante brasileiro durante a campanha eleitoral.
Milei chegou a ameaçar cortar relações com o Brasil e chamou Lula de “socialista corrupto” e “comunista”. Uma vez eleito, o argentino passou a ter uma postura mais moderada e trabalha para reconstruir os laços. O primeiro sinal positivo com o governo Lula foi dado com o convite de Mondino a Lula para a posse do presidente eleito.
Scioli foi vice-presidente entre 2003 e 2007 e governou a província de Buenos Aires. Em 2015, perdeu a eleição presidencial para Mauricio Macri. Ele chegou a ser cogitado para ser o nome da chapa governista nas eleições até a escolha de Sergio Massa.